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Orlândia
Ex-Capital do Futsal

A história do futsal na cidade de Orlândia-SP, um passado vencedor e um futuro incerto

A Associação Desportiva Classista Intelli, mais conhecida como ADC Intelli é um clube de futsal fundado em 10 de dezembro de 1977 na cidade de Orlândia-SP, pelo empresário Vincenzo Antonio Spedicato, mantenedor, diretor e fundador do Grupo Intelli. A equipe que começou disputando campeonato regionais no interior de São Paulo na década de 80 foi se desenvolvendo, ganhando apoio e notoriedade no cenário estadual, movido pela paixão de seus proprietários. e por uma figura central que se faz presente até hoje na equipe, Aparecido Donizeti Silva (57), o Cidão, atual treinador e dirigente da franquia.

A história de Cidão com a Intelli começa muito cedo, quando ainda jovem conseguiu um emprego na parte financeira da empresa Intelli e com um convite inusitado do  presidente aceitou também um cargo para comandar a equipe ainda amadora de futsal da Intelli para torneios na cidade contra outras empresas da região. Com o passar do tempo a ideia de ambas as partes (clube e treinador) foram se amadurecendo e bons resultados começaram a aparecer em competições, como a Taça EPTV de futsal entre outros, era o início da era vitoriosa de Cidão com a Intelli.

 

O verdadeiro “boom” que projetou a equipe de Orlândia, uma cidade de 40 mil habitantes, para o cenário nacional foi a conquista do campeonato paulista de 2003 diante do Palmeiras. O título quebrou um jejum de 36 anos sem uma equipe do interior do estado levantar o troféu e abriu as portas para o maior sonho dos dirigentes e comissão técnica da franquia: a entrada na Liga Nacional de Futsal.

 

Até hoje no comando da equipe, Cidão relembra os primeiros momentos do time  disputando a maior competição de futsal do país. “Foram campanhas iniciais muito boas, mas era praticamente impossível disputar contra grandes investimentos, por isso focamos nossa atenção nos campeonatos estaduais”, comenta. A disparidade financeira e equipes tradicionais com mais tempo de trabalho não permitiam a ADC Intelli brigar pelo título, mas isso não foi obstáculo para a agremiação que nos anos de 2010 e 2011 conquistou o bicampeonato estadual, ficando de vez seu nome na história do futsal.

 

Era a hora de subir o degrau e brigar para conquistar o país, foi aí que em 2012 de maneira surpreendente a equipe orlandina anunciou a contratação do craque Falcão, eleito 4x o melhor jogador do mundo de futsal, e com ele a chegada de diversos outro jogadores que reforçaram a equipe trazendo o favoritismo para a conquista da Liga Nacional de Futsal. O esforço não foi em vão, com um elenco recheado de estrelas, a ADC Intelli venceu de forma consecutiva a Liga em 2012 e 2013, chegando em 4 finais seguidas até 2015, além de disputar o torneio Sul-americano e vencê-lo, dando direito a disputa do Mundial de Clubes, o auge para a equipe do interior que passou a ser chamada de capital nacional do futsal

O fim de uma Era

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Em 2016 uma grave crise financeira afetou os planos da Intelli e prejudicou o lado esportivo da                  empresa, além disso, a reforma do Ginásio Maurício Leite de Moraes anunciada no final daquele mesmo ano, obrigou ao clube mudar a sua sede e sair da tradicional Orlândia. “Os sonhos foram ficando para trás, afetando nosso planejamento e paralisando nossos objetivos”, afirmou Cidão. Com um investimento muito menor, a franquia se viu em um dilema tendo que mudar de sede repetidas vezes (fato recorrente na Liga Nacional) para se manter “viva” dentro da competição. A franquia passou por São Sebastião do Paraíso por dois anos, São Carlos, Dracena e atualmente está em Santo André.

 

Sobre os principais desafios para se manter uma equipe dentro da  Liga Nacional de futsal, o treinador da atual Santo André/Intelli cita o alto nível de competitividade e o fator principal, o orçamento inadequado. “O problema principalmente é o financeiro, então optamos por fazer parcerias para manter o nome da Intelli na franquia em outras cidades e ir em busca de novos patrocinadores que pudessem ajudar a custear a equipe”, relata. Cidão ainda cita que não é uma tarefa fácil por não conseguir firmar um acordo longo com os investidores e as respectivas cidades.

 

“Além de todas as dificuldades, a pandemia dificultou ainda mais esse processo para nos estabelecermos em alguma cidade, tudo se resume a questão financeira, os parceiros aparecem mas não sustentam por muito tempo”, conta. O profissional diz que a ideia de transferir o CNPJ e alugar a franquia para outro clube não está nos planos e o seu objetivo principal é manter o nome da Intelli nos trilhos do futsal brasileiro, “vou tentar de todas as formas manter a equipe para quem sabe um dia voltar com o futsal para a nossa cidade", finalizou Cidão. 

Foto: Tiago Sousa

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Cidão durante um treino do Intelli

         “Os sonhos foram ficando para trás, afetando nosso planejamento e paralisando nossos objetivos”
-Cidão

Arte: Raquel Paiva

O GINÁSIO INACABADO

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As obras do ginásio Maurício Leite de Moraes se iniciaram no final de 2016 e a previsão de entrega total da reforma era em meados de 2017, mas não foi bem o que aconteceu. O secretário de infraestrutura da cidade de Orlândia, Leonardo Alves, comentou as dificuldades para a entrega e reforma completa do local, “o ginásio em si tinha limitações que dificultavam a sua reforma, então tivemos que ampliar somente um lado do local para aumentar sua capacidade”.

 

Com um projeto de apenas ampliar a capacidade do ginásio com o famoso “Tobogã” e um orçamento de R$2 milhões, surgiram novas diretrizes do plano inicial na reforma para melhorias de outras partes do ginásio. A ação foi caracterizada pelo atual secretário como uma “tragédia anunciada” da gestão anterior da prefeitura da cidade, prejudicando o prazo de entrega.

 

“A obra foi licitada no começo de 2016 e a expectativa de entrega era o final desse mesmo ano, porém, por ser uma obra do Governo Federal o recurso não vêm de maneira totalizada", explica Leonardo. O secretário ainda afirma que a empresa escolhida teve que arcar com custos que ainda não estavam no orçamento, além do projeto apresentar alguns problemas de execução ocasionando aditivos no contrato para suprir a demanda, causando divergências entre os envolvidos.

 

Durante esses anos, houve tentativas de retomada nas negociações com a chegada de outra gestão na prefeitura da cidade, porém, Leonardo comenta que as tratativas atrasaram ainda mais o acordo para chegar em um denominador comum, impossibilitando a volta do futsal para sua “cidade natal”. 

Obras no Ginásio Maurício Leite de Moraes / Créditos: Prefeitura de Orlândia

Arte: Raquel Paiva

“Entre 2018 e 2019, a obra seguiu, mas com a mesma situação, o dinheiro vinha em partes”, relata o secretário. Alves afirma que a ideia era a criação de uma arena multiuso que seria um grande benefício para a cidade, para ser usado em diversos eventos mas que “conforme os fatos foram acontecendo, infelizmente sabíamos que a obra demoraria muito mais que o esperado e sempre houve muito protesto dos cidadãos de Orlândia” conclui Leonardo.

Sobre a expectativa para a entrega final do ginásio, Leonardo é sucinto ao dizer que restam detalhes para a conclusão “ Uma parte da obra está com 90% da obra concluída e a outra parte 95%, mas infelizmente a empresa que estava executando não vai mais finalizá-la”, comenta. Com isso, a rescisão contratual foi feita e o projeto foi alterado em alguns detalhes, agora o secretário afirma que está aguardando para pedir uma nova licitação e consequentemente a contratação de outra empresa que possa finalizar a reforma em um prazo de dois meses, desde que a obra seja retomada.

 

Sobre a volta do futsal da Intelli para a cidade de Orlândia, Tarciso Manso (59), jornalista e radialista da Gazeta de Orlândia, acredita que seria o ideal para ambas as partes, mas com proporções diferentes nesta “retomada”. “Acredito que possamos voltar a ter a Intelli, talvez com um investimento menor mas com condições favoráveis e dependendo da entrega do ginásio municipal", conclui.

 A nova forma da Intelli depois de "perder" sua casa 

Tarciso explica porque as complicações na reforma do ginásio enfraqueceram o time

Na foto: galeria histórica do time no memorial em Orlândia-SP mostram a coleçaõ de camisas do clube no decorrer das décadas. Créditos: João Francisco Freitas

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Muito além das quatro linhas
A História de Ezio, um fanático pelo futsal

Ezio Mário Andrade (54), possui uma paixão que ele mesmo a descreve como única em sua vida: o futsal. Morador da cidade de Orlândia-SP desde quando nasceu, Ezio conta que acompanha a equipe de futsal da cidade desde 1987 quando a disputa era apenas por torneios regionais. Desde aquela época, ele relembra com orgulho que todos os títulos do time ele presenciou ao vivo no ginásio e sempre esteve presente apoiando incondicionalmente as cores grená e dourado, tradição da cidade.

 

Acompanhando a ascensão da equipe no cenário nacional, em 2009 o “torcedor-símbolo” resolveu criar uma torcida organizada com o nome de “Intelloucura”. “Nós montamos a torcida e começamos acompanhar o time no Brasil e fora dele também, nos campeonatos internacionais”, conta Ezio, que pegou a inspiração para criar a torcida após fazer inúmeras reuniões com o técnico e dirigente da franquia, Cidão.

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Foto: Ezio Andrade/Arquivo Pessoal

Ezio ao lado bandeira da Intelloucura (torcida organizada da Intelli - Orlândia)

O sucesso foi enorme e a cidade abraçou a torcida de tal forma que virou símbolo e destaque para os jogadores na época que criaram um vínculo muito forte de amizade com Ezio, diretor e fundador da organização. 

 

“A viagem mais marcante que eu realizei foi para o Uruguai, foram 51 horas de ônibus para acompanhar a Intelli no torneio sul-americano, todo o esforço foi recompensado com nosso título” relembra com alegria o torcedor “intelliano”. Além de toda a experiência que Ezio adquiriu nesses anos acompanhando a Intelli, ele afirma que o clube proporcionou a ele conhecer novas culturas, remetendo-se à viagem que realizou ao Cazaquistão para apoiar a franquia na disputa do Mundial de Clubes em 2013.

 

O vínculo com os jogadores e ex-jogadores que passavam por Orlândia era tão grande que Ezio chegou a ficar hospedado no apartamento de um jogador da equipe na época do Mundial no Cazaquistão para conseguir torcer e estar presente com o time, mesmo do outro lado do planeta. “Era uma coisa incrível, não entendia nada da língua deles, mas é algo que levarei para sempre comigo”, diz Ezio.

 

Com toda crise financeira e a reforma no ginásio que obrigaram a Intelli sair da cidade de Orlândia, Ezio afirma que não ficou abalado e que isso deu ainda mais motivação a ele. “ A gente não parou, continuamos viajando todos os jogos para apoiar o time, somente agora com a pandemia que fomos impedidos de prosseguir acompanhando a Intelli”, o torcedor diz que pretende ir conhecer logo Santo André, atual sede da equipe neste ano de 2021 e voltar o quanto antes a frequentar os estádios.

 

Ezio classifica como uma pena o futsal de Orlândia ser “obrigado” a sair da cidade e que sente falta principalmente do contato com os jogadores, mas que jamais deixará de acompanhar. “Estamos fazendo novas camisas, bandeiras, vendendo rifas para buscar sempre ajudar a Intelli com a força de nossa torcida, não vamos parar nunca” finaliza Ezio, sonhando com o dia que o futsal possa voltar para sua “cidade natal”.

TCC produzido por João Francisco Zilli Freitas

Orientador: Anderson Gurgel Campos

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Curso de Jornalismo

Plataforma utilizada: Wix

Texto: João Francisco Zilli Freitas

Diagramação e arte: Raquel Paiva

Fotos e vídeos creditados

Trabalho sem fins lucrativos

As opiniões e conclusões expressas não representam a posição da Universidade Presbiteriana Mackenzie

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